terça-feira


Vítima de uma suposta denúncia falaciosa de uma mulher repudiada na noite de núpcias, o jovem Santiago Nasar foi condenado à morte pelos irmãos da sua hipotética amante, como forma de vingar publicamente a sua honra ultrajada e sob o olhar cúmplice ou impotente da população expectante de uma aldeia colombiana: é esta a história verídica que serve de base a este romance, e que, logo nas suas primeiras linhas, é enunciada.
Mas afinal onde se encontra a verdade nesta muito anunciada tragédia?

Retirado do livro:
"Os irmãos Vicario entraram às 4.10. A essa hora só se vendiam petiscos, mas Clotilde Armenta vendeu-lhes uma garrafa de aguardente de cana, não só pela estima que tinha por eles, mas também porque estava agradecidíssima pelo bocado de bolo que lhe tinham mandado. Beberam a garrafa inteira em duas grandes goladas, mas continuaram como se nada fosse. «Estavam pasmos», disse-me Clotilde Armenta, «e já não iam lá nem com uma medida de petróleo pelos gorgomilos.» Despiram então os casacos, dependuraram-nos com todo o cuidado nas costas das cadeiras, e pediram outra garrafa. Tinham a camisa suja de suor seco e uma barba de dois dias que lhes dava um ar montês. A segunda garrafa beberam-na mais devagar, sentados, olhando com insistência para a casa de Plácida Linero, no passeio oposto, com as janelas sem luz. A maior varanda era a do quarto de Santiago Nasar. Pedro Vicario perguntou a Clotilde Armenta se tinha visto luz nessa janela, e ela disse que não, mas pareceu-lhe uma curiosidade estranha. - Sucedeu-lhe alguma coisa? – perguntou. - Nada – respondeu Pedro Vicario. – Nós é que andamos à procura dele para matá-lo."

(1 de Abril de 2007)

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