Souad tinha dezassete anos e estava apaixonada. Na sua aldeia da Cisjordânia, como em tantas outras, o amor antes do casamento era sinónimo de morte.
Tendo ficado grávida, um cunhado é encarregado de executar a sentença: regá-la com gasolina e chegar-lhe fogo. Terrivelmente queimada, Souad sobrevive por milagre. No hospital, para onde a levam e onde se recusam a tratá-la, a própria mãe tenta assassiná-la.
Hoje, muitos anos depois, Souad decide falar em nome das mulheres que, por motivos idênticos aos seus, ainda arriscam a vida. Para o fazer, para contar ao mundo a barbaridade desta prática, ela corre diariamente sérios perigos, uma vez que o "atentado" à honra da sua família é um "crime" que ainda não prescreveu.
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Devo dizer que demorei a pegar neste livro, mas mal peguei nele simplesmente devorei-o! Não estava à espera deste tipo de escrita. Se calhar esperava uma história mais romanceada, mais 'soft on the edges', não uma escrita directa, rápida de se assimilar, quase com se de uma conversa frente a frente com a autora se tratasse.
É incrível o que o ser humano pode suportar em termos de agressões físicas e psicológicas. Para mim é impensável que uma mulher tenha passado por tantas torturas e cueldades inflingidas por outros 'seres humanos', sendo estas mesmas crueldades justificadas com a 'tradição'.
Excerto: "Eu não assisti porque não tinha o direito de estar com eles.Nem sequer devia dizer «Eu não tinha o direito», porque tal coisa não existe. É a tradição, é assim e pronto. Se o teu pai te disser «Não saias desse canto a vida inteira», tu ficas nesse canto toda a vida. Se o teu pai te puser uma azeitona no prato e te disser «Hoje não comes mais nada», tu não comes mais nada. É muito difícil abandonar essa pele de escrava consentida, porque se nasce com ela quando se é rapariga e, durante toda a infância essa forma de não-existência, de obedecer ao homem e à sua lei, é cultivada ininterruptamente, pelo pai, pela mãe, pelo irmão, e a única saída, que consiste em casar, vai perpetuá-la com o marido.
(...)Não havia aniversários nem fotografias, era uma vida mesquinha de um animalzinho que come, que trabalha o mais depressa possível, que dorme e que apanha pancada."
Dizer mais o quê, depois deste excerto? Só mesmo lendo o livro!
(22 de Maio de 2007)
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