segunda-feira

"Não é apenas desde o 11 de Setembro que Carmen Bin Ladin se manifesta contra o fundamentalismo islâmico. Quando chegou à Arábia Saudita como noiva de Yeslam Bin Laden, o décimo irmão de Osama, tratou de tudo para não ter de ali viver. No entanto, ao terminar os estudos superiores nos Estados Unidos, o seu marido regressou à pátria. Passou a dirigir os negócios da família. A vida alterou-se completamente para Carmen Bin Ladin. Até ali tinha sido para o marido uma companheira com direitos iguais, mas com o regresso à Arábia Saudita ele alterou completamente o seu comportamento.
Durante nove anos Carmen Bin Ladin suportou a repressão a que era submetida. Começou também a temer pelas filhas. Lutou, e conseguiu, para que a família vivesse durante algum tempo na Suíça. Quando o casamento com Yeslam se tornou insustentável, ela permaneceu aí com as suas filhas. Estas são livres, mas mantêm o apelido."
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Excerto: "Numa noite quinta-feira em 1978, todos os diplomatas falavam do último boato a circular por Gidá. Uma das jovens sobrinhas-netas do rei, a princesa Mish'al, fora cruelmente assassinada num parque de estacionamento da baixa da cidade.
Praticamente uma adolescente, estava prometida em casamento a um homem muito mais velho. Tentara fugir do país com o rapaz de quem gostava, servindo-se dum passaporte falso, mas fora apanhada no aeroporto.
(...) Apesar disso, Mish'al foi apanhada, não sei como. E o avô dela, o príncipe Mohamed, irmão do rei Khaled, mandou matá-la por ter envergonhado a família. O rei Khaled aparentemente resistiu à ordem do irmão, mas este insistiu na morte da neta, e era ele o patriarca do clã. Não houve julgamento, segundo me disseram. Mish'al foi morta com seis tiros num parque de estacionamento." (página 87)
Este livro não é uma obra prima da literatura, mas sim um poderoso e precioso testemunho de um passado que se reflecte no nosso presente.
Para mim foi muito importante ler este livro, pois desconhecia muitos factos da história política e social do Médio Oriente. Percebo agora, mais claramente, como é que o terrorismo chegou a este ponto de relevância nos dias de hoje.
Ao longo deste livro fui-me apercebendo da minha imensa ignorância quanto aos factos históricos que levaram ao 11 de Setembro de 2001.
A autora conseguiu conciliar factos sociais, políticos e religiosos com os pessoais, o que torna este livro numa leitura muito agradável e educativa. Fiquei abismada com a importância de as mulheres vestirem abayas; revoltei-me com a ideia de uma mutawa (uma espécie de PIDE religiosa extremista); que a palavra árabe para mulher é hormah que vem da palavra haram (tabu); que quase tudo o que as mulheres ocidentais fazem no dia-a-dia é haran (pecado) e se não é haran é abe (vergonhoso)...
Costuma-se dizer que ler é aprender e eu aprendi muito com esta leitura!
(2 de Julho de 2007)

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