domingo


Sinopse:
"«Depois da projecção do filme, ela chega para um debate. Naquela altura era moda, os realizadores virem falar com o público, era preciso fazer debates. Quero comprar um ramo de flores enorme. Não tenho coragem. Tenho vergonha. Como oferecer as flores perante um sala cheia, como afrontar os sorrisos, as graçolas e as roçazinhas? Não compro flores. Levo no bolso o Détruire, dit-elle. Tenho esperanças de um autógrafo. As luzes reacendem-se. E ela está ali.»
Yann Andréa bateu à porta de Marguerite Duras no Verão de 1980, em Trouville, depois de lhe ter enviado inúmeras cartas durante cinco anos. Desde então, nunca mais se separaram. Dezasseis anos de vida em comum entre um «monstro» da literatura e o seu amante, o último, o preferido. Entre eles houve Aquele Amor, que Yann Andréa procurou perpetuar para além da morte."

Comentário:
Quando Yann Andréa bateu com os olhos no nome Duras foi para sempre. Foi no princípio da década de 70, ao encontrar, no apartamento do liceu, a obra Os Pequenos Cavalos de Tarquínia. Leu e releu todos os seus livros, leu intensamente todas as palavras. Na primeira vez que a viu, em 1975, teve a confirmação de que nunca mais a deixaria. Escreveu-lhe cartas atrás de cartas, até que, em 1980, ganhou coragem e bateu à sua porta em Trouville. Desde aí, nunca mais se separaram. Viveram 16 anos em comum até ao último suspiro do grande "monstro" da literatura. É essa história de paixão e obsessão que Yann Andréa resolveu tornar pública, num livro que retrata aquele amor e que pretende ser a sua derradeira carta de amor a Marguerite Duras.

Excertos:
"Continuo em ter dificuldade em dizer a palavra. Não conseguia dizer o nome dela. Só escrevê-lo. Nunca conseguí tratá-la por “tu”. Por vezes ela teria gostado. Que eu a tratasse por “tu”, que a chamasse pelo seu nome. Não me saía da boca, não conseguia. (...) E essa impossibilidade de a chamar pelo nome, acho que vem disto: primeiro li o apelido, olhei para o apelido, o nome e o apelido. E esse nome encantou-me imediatamente. Esse pseudónimo literário. Esse apelido emprestado. Esse nome de autor. Esse nome agradava-me simplesmente. Esse nome agrada-me infinitamente (...)
Sou um leitor. O leitor primordial, visto amar todas as palavras, integralmente, sem qualquer contenção. E esse nome de cinco letras, DURAS, amo-o absolutamente. Caiu-me em cima. Nunca mais a deixei e não a consigo deixar. Nunca. E ela também não."


"Você morreu a 3 de Março de 1996 às 8 horas e 15, na sua cama, na rua Saint-Benoît. Eu não vim. Deixei-a. Você morreu. Eu não. Eu fiquei cá e estou aqui a escrever-lhe. E isto fá-la rir: mas por quem é que ele se toma, por um escritor, esta agora. Você ri. E diz: não tem mais nada para fazer, só escrever, não interessa o quê, continue, tem um tema maravilhoso, um tema de ouro, sou eu que lho digo, vá, pare de se armar em parvo, escreva, não vale a pena matar-se, não se faça de imbecil.
Qual é o tema.
E então aparece o sorriso. A sua cara torna-se numa cara de criança, uma criança que sabe, que sabe tudo na inocência perfeita de um ser inaudito. Nesse sorriso da cara toda, da cabeça toda, do espírito todo, do coração todo, poder-se-ia dizer, você diz: o tema sou eu."

"Se calhar não devia ter dormido, se calhar devia tê-la ouvido mais, estar mais presente, amar mais, nunca o fazemos o suficiente, não podemos imaginar que o último dia está muito próximo, não podemos porque você fala noites a fio, deveríamos, sim, fazer mais, mas o quê, inventar uma espécie de amor ainda maior do que aqueles livros, mas como fazê-lo, como é possível. Certas noites eu queria dormir e dizia-lhe para se ir embora, para ir para o seu quarto, sozinha perante a morte, certas noites já não aguentava mais, mandava-a embora, fazia-o e nunca uma queixa, ia para o seu quarto furiosa à espera de morrer. No dia seguinte voltava.
Estamos sozinhos fechados neste apartamento da rua Saint-Benoît. Esperamos pelo último dia. Só sabemos isso."

A minha opinião:
Esta é a última e derradeira carta de amor desta relação intensa e tempestuosa. Uma tentativa de expressão dos acontecimentos e sentimentos sentidos por Yann Andréa aquando da sua relação com a grande escritora Marguerite Duras. Uma expressão algo caótica de descrições e expressões.
Achei muito interessante este ponto de vista em primeira mão de um relacionamento amoroso com uma autora conhecida mundialmente, mas por vezes senti que o autor era um pouco melodramático demais ao retratar-se como o pobre coitadinho à mercê das vontades de uma mulher confiante e poderosa no seu mundo.
Talvez por ter iniciado a leitura deste livro com elevadas expectativas eu própria tenha ficado insatisfeita com o que o livro me transmitiu. Emboa não possa, de maneira alguma, diminuir a extrema beleza de algumas frases (ver excertos).
(6 de Outubro de 2007)

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